15 de out. de 2009

Idosos de Brasília se sentem sozinhos

Thayanne Braga

Eles deixaram os seus hábitos, vizinhos, comida e a terra natal para viverem aqui



“Casei e vim morar em Brasília” (Marly Oliveira, 56), “eu vim tentar melhorar a vida aqui na capital” (Joaquim Silva, 73), “meu marido morreu, então eu vim morar com os meus filhos aqui” (Elizabeth Lunarte, 80), “eu era jovem na época, vim à procura de um emprego” (Onildo Ribeiro, 69). Esses são alguns motivos citados pelos idosos que deixaram suas raízes para viverem em Brasília.

A perda do companheiro, filhos, familiares ou amigos faz o idoso se sentir só, principalmente por não ter ninguém para compartilhar a vida e para auxiliar durante a velhice. “Iríamos completar 50 anos de casados”, relembra a viúva Elisabeth Lunarte Demonte, 80. Ela nasceu em Jaboticabal (SP), tem 2 filhos, um médico e uma enfermeira e veio morar em Brasília em 2005, com sua filha e netos.

Com o nome de rainha, Elisabeth merece todo o respeito, ela sempre trabalhou voluntariamente e já participou de vários projetos da igreja e comunidade. Apesar das dificuldades de movimentação, devido a uma paralisia que teve há alguns anos, Elisabeth passa a tarde bordando, adora montar quebra-cabeças e ama música. Mas a solidão a incomoda, pois passa grande parte do dia sozinha no apartamento. O clima de Brasília também não contribui: “não suporto esse clima, desde que eu vim para cá fiquei doente. Estou acostumada com o ventinho do litoral”.

Voltar para São Paulo é um dos planos de Elizabeth, “vou voltar, se Deus quiser, não quero morrer aqui não! Quero voltar pra lá, minha raiz, meus parentes, meus filhos, tão tudo lá” e conclui, “obrigada Brasília por me acolher, mas aqui não é minha praia!”.

Perfil do idoso do DF
O idoso do Distrito Federal é, na sua maioria, do sexo feminino, de cor branca, católica e pouco escolarizada. As mulheres idosas são, em maior parte, viúvas. Os homens geralmente são casados, vivem com a mulher ou com, pelo menos, um de seus filhos. A idade padrão é de 77 anos e o nível de escolaridade é até o ginasial. Esse perfil foi publicado pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas da Terceira Idade (Nepti), da Universidade de Brasília (UnB), em 1998.

A pesquisa, “O idoso no contexto familiar no DF”, constatou a solidão como um dos sentimentos mais comuns que atacam as pessoas mais velhas de Brasília. “O idoso se sente abandonado, porque fica sozinho em casa quando todos em que nela habitam se retiram para seus afazeres e ele não tem pra onde ir”, afirma a professora aposentada Maria Regina de Lemos Prazeres Moreira, coordenadora do Nepti.

O Nepti informou que, quanto maior a renda da família, maior o isolamento do idoso. As pessoas idosas de baixa renda se sentem mais inseridas nas atividades da casa, participam mais das decisões da família, pois muitas vezes elas são os únicos responsáveis pela renda familiar. Desta forma elas não se sentem excluídas, ou rejeitadas, uma vez que é parte importante da manutenção do lar. Já o idoso de classe alta não é tão requisitado para as tarefas domésticas, é mais protegido pelos familiares, atitude que o leva a sentir-se excluído do processo decisório da família, e, conseqüentemente, mais sozinho.

Inovações
Para alguns idosos, as inovações tecnológicas é a chave para o entretenimento. Interesse e força de vontade são ingredientes indispensáveis para a renovação. Marly Oliveira, 56 anos, não desistiu, “sempre tive vontade de manusear o computador, mas achava muito difícil, um dia a minha caçula teve a paciência de me ensinar, e hoje eu consigo entrar na Internet sozinha, leio meus e-mails e ainda passo horas conversando pela webcam com a minha irmã que mora em Teresina (PI)”.

Projetos
O Nepti tem um projeto intitulado “Encontros Sócio-culturais da Terceira Idade”, que visa proporcionar aos idosos a oportunidade de se encontrarem para desenvolver atividades sociais e culturais de interesse do grupo. São realizadas três vezes por mês uma visita a alguma instituição ou evento cultural como, exposições, museus, órgãos públicos etc.

Serviço
Telefone: (61) 3307-2581 e (61) 99740572
Maria Regina de Lemos Prazeres Moreira


Agência Terceiro Olhar – Notícias e direitos da Terceira Idade
Disciplina “Agência de notícias”
Instituto de Educação Superior de Brasília

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