27 de set. de 2009

Rainha depois dos 60

Por Alane Moraes

Depois de uma vida atribulada, ela se descobre uma mulher mais bonita e sensual na terceira idade

Ela foi mais uma mulher a se casar antes dos dezesseis anos de idade. A carioca, Elisabete Cristina de Oliveira, é filha de candangos e depois da última separação, ela se viu com uma profunda baixa autoestima. Mudou para a pacata cidade satélite de Brazlândia. E foi nessa cidade e nesse ano de 2009, que ela foi eleita a rainha da maior idade. Em um concurso de beleza com um jurado criterioso e com grande cobertura midiática. Por trás de todo glamour do concurso, estava uma mulher insegura que tentava provar para si que sua vida ainda podia ganhar mais fôlego. Os jurados com certeza puderam ver nos olhos da candidata uma vida de cuidados, aprendizado e perseverança. Além da beleza de uma vida, apesar de tudo, bem vivida.

Ela foi casada três vezes e teve três filhos. Nunca parou de estudar. Foi trabalhar no Ministério da Educação, depois disso teve a oportunidade de passar pela secretaria da Presidência da República nos governos dos presidentes Sarney e Collor. Separou, casou-se novamente e teve mais um filho. Elisabete Cristina, 60 anos, aposentou-se precocemente. E com o novo parceiro conviveu por mais dez anos. È uma mulher delicada, prestativa e preserva uma simplicidade em sua rotina. Apesar de ser conservadora e evangélica, se descobriu novamente ao entrar na terceira idade, depois de uma última separação, e de um passado de perdas dolorosas.

Elisabete aposentou-se para realizar um sonho de abrir uma boutique, conseguiu realizar, mas não conseguiu manter. Ela acredita que seu pior defeito é acreditar demais nas pessoas e, por isso, perdeu a loja e uma casa na área mais nobre de Brasília. Filha de pioneiros, viveu na antiga Cidade Livre, em Taguatinga (em uma casinha de fundos), no Guará e no Lago Sul. Hoje ela se orgulha do bom gosto, da vaidade e de poder se vestir com bem menos dinheiro. A carioca depois de todas as separações, voltou a cidade natal e também morou em São Paulo por quase três anos. E agora vive com a sua mãe de 88 anos na pacata cidade satélite de Brazlândia. Sua filha recém separada e sua neta de quatro anos também se juntaram e dividem o lar. Quatro gerações de mulheres, muitas histórias, todas com muito a ensinar e aprender.

Ela encontrou o Centro de Convivência de Idosos em Brazlândia, onde faz atividades físicas diariamente. Por lá fez novas amizades e fortaleceu relações nos encontros da maior idade. Em reuniões regadas a chá, café e biscoitos, jovens da terceira idade discutem companheirismo, casamento, divórcio, sexo, filhos e aposentadoria. Fazem passeios e viagens, encontram “Mães e Pais”(cuidadores) para os guiarem em um período de novas descobertas.

Depois de anos vivendo de aluguel, Elisabete quer voltar ao serviço público, pois quer mais uma vez comprar uma moradia. Já que perder sua casa foi sua maior dor. Depois de vencer o concurso, esta mulher pode recuperar a alegria de viver. A vida não era mais feita de obrigações com a mãe, filhos e netos. Ela aprendeu que podia ser feliz sozinha e continuar se sentindo bonita, e acredita ser muito jovem para construir tudo de novo. Quer ser modelo e deixa escapar que quer mesmo é desfilar para todo Distrito Federal. A rainha da Maior Idade de Brazlândia 2009 não é mais a mulher de antes. Recuperada, do antigo baixo astral, ela é muito mais elegante e simpática, e uma mulher muito mais segura.

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