27 de set. de 2009

O “baiano” e o quebra-queixo

Patrícia Távora

Há 40 anos, de baixo de chuva ou de sol, o doce é a alegria da freguesia do Guará

“Quebra-queixo olha aê”, grita o paraibano Sebastião Martins da Silva, 66, em sua bicicleta pela cidade-satélite Guará/DF nas terças, quintas, sábados, domingos e feriados. Com a venda há mais de 40 anos do doce, Baiano, como é conhecido pelos moradores, sem nem saber assinar o nome, criou seus quatros filhos e comprou uma casa em Samambaia Sul/DF. A venda de tantos anos serviu para que Sebastião fosse homenageado pelo Rotary Internacional com uma placa de “Amigo do Guará”. Hoje em dia, até comunidade no site de relacionamento orkut trás as recordações de várias gerações a respeito do vendedor que faz sucesso entre os fregueses.

T.O - Qual a historia do doce? Desde quando vende em Brasília?

Baiano: Eu faço quebra-queixo há 50 anos. Comecei na Paraíba e quem me ensinou foi meu irmão mais velho. Tem gente que vem de longe e fala: “baiano, quebra-queixo igual ao seu não tem quem faça não, viu?”. Aqui em Brasília, desde janeiro de 1968, quem faz sou eu e minha mulher Aldamira Xavier da Silva. Vendo há mais de 40 anos, que é um bocado de dias, né? (risos).

T.O - Já teve algum problema com a vigilância Sanitária?

Baiano: Nunca tive problemas, graças a Deus.

T.O - Por que escolheu para vender no Guará?

Baiano: Na época, eu morava na vila do IAPI/DF e comecei a trabalhar nas construções do Guará. Então, passei a vender o doce nas construções e quando acabou, passei a vender nas ruas para os moradores que ocuparam as casas. Se a gente ficar parado em uma barraquinha, a gente não vende. E na rua já tem aquela minha freguesia certa das casas. Já vendo para a terceira geração. Muitas crianças que compraram o meu doce, hoje trazem seus netos para comprarem.

T.O - Como era a venda antes e como é nos dias atuais?

Baiano: Quando comecei era fraco, porque na obra é mais difícil de vender. Mas, hoje em dia é melhor um pouco porque tem as casas e tem as crianças. Criança sabe como é que é, quando quer uma coisa logo diz, “pêra ai baiano que eu vou chamar minha mãe”. (risos).

T.O - Quais as dificuldades que você encontra para vender?

Baiano: Graças a Deus, não encontro dificuldade com ninguém. Eu tenho amizade com todo mundo e nunca tratei uma pessoa mal. Sempre tive respeito e carinho, isso que é importante. Quem trabalha assim, tem que saber tratar as pessoas. Às vezes, encontro gente sem vergonha, picareta que chega e dá o cano. Um cara já me ameaçou falando que não ia pagar e que se eu fosse lá cobrar, ele ia me dar um pau. Isso acontece demais e eu não ligo. De vez enquanto, um desses vem para me pagar e pedir desculpas. Outra coisa, é que nunca neguei um pedaço de doce a uma criança que estava sem dinheiro. Às vezes aparece um pai falando: “mas, baiano você vendeu?” Eu digo sim! Eu vou deixar sua filha chorando porque não tem dinheiro para o doce? Eu não faço isso com ninguém. É por isso que estou até hoje e enquanto Deus me der vida e saúde para trabalhar e cuidar da minha ‘véia’ eu irei.

T.O - Baiano, antes você passava pelas ruas sozinho e hoje conta com a ajuda do seu genro. Por quê?

Baiano: Ando com meu genro porque estou cansado. Eu adoeci e ia parar de vender, mas ele chegou e disse que não era para eu parar, pois ficar em casa seria pior. Então, ele leva a bicicleta pesada com o doce e eu vou na de passeio gritando. Assim, não me canso muito.

T.O - A respeito de sua aposentadoria, como você fará para ter?

Baiano: Ainda não sei. Tenho que parar para cuidar da minha aposentadoria. Eu trabalhei com carteira assinada por muitos anos, mas a perdi e eu tinha mais de 20 anos de INSS. Paguei também mais uns cinco anos como autônomo. Como sou descansado não corri atrás, não fui ao INSS para eles procurarem por lá. Resolvi deixar de mão e agora vou me aposentar pela idade.

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