3 de nov. de 2009

Tratamento com animais traz benefícios a idosos


O contato com animais exercita e estimula habilidades cognitivas e a memória afetiva de idosos com Alzheimer


Por Brunna Guimarães


O envelhecimento da população mundial traz grandes desafios à sociedade moderna. Nos últimos anos, tem sido muito debatido no Brasil a explosão populacional de pessoas idosas e a redução de nascimentos. Segundo estudo recente promovido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2000 a proporção de idosos era de 17,8 para cada 100 jovens. Mas esses dados, estão mudando radicalmente, estima-se que em 2050, serão aproximadamente 102 idosos para cada 100 jovens.

Desta forma, torna-se fundamental promover iniciativas para a melhoria das condições de vida da população acima de 65 anos. E uma delas é buscar meios para tratar um dos fenômenos que mais fragiliza os idosos, a senilidade, manifestada pela vilã, que tenta aos poucos apagar nossas mais valiosas lembranças, a Doença de Alzheimer (DA).

Estudo realizado pela psicóloga e pesquisadora do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Luciana Teixeira Guimarães, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP), investigou os benefícios propiciados pela terapia assistida com animais em idosos institucionalizados com diagnóstico de processo de demência, tipo Alzheimer. Teixeira revelou que os idosos, sobretudo quando vivem em asilos, sentem uma enorme necessidade de receber demonstrações de afeto, como o toque, atenção e carinho, o que muitas vezes acaba não ocorrendo, pois estão afastados do convívio social.

Terapia afetiva

De acordo com Teixeira, a terapia com animais enfatiza bastante o tato e o contato, além de exercitar habilidades cognitivas como a memória afetiva, ou seja, aquela despertada por algum fato que traz lembranças de histórias vividas com certa ligação afetiva.

A coleta de dados, ocorreu por meio de observação, durante o tratamento em atividade assistida do Instituto Nacional de Ações e Terapias Assistidas por Animais (INATAA) - “Projeto Cão do Idoso” na Instituição “Associação Beneficente A Mão Branca de Amparo aos Idosos”. O projeto tem como objetivo realizar a terapia assistida com animais em casas de repouso e abrigos para idosos, na cidade de São Paulo.

O método aponta diversos benefícios aos pacientes, tais como: diminuição da pressão sanguínea e freqüência cardíaca do uso de calmante e antidepressivo; melhora do sistema imunológico; estímulo da interação social; melhora da capacidade motora; diminuição da quantidade de medicamentos utilizados e melhoria da auto-confiança e auto-estima.

O projeto recebe o acompanhamento de profissionais de diversas áreas, veterinários, psicólogos e assistentes sociais, são algumas das pessoas envolvidas. Os cachorros estão sempre muito limpos e com exames que comprovam sua saúde. São escolhidos levando-se em conta as necessidades dos idosos, uma avaliação de comportamento, para impedir situações desagradáveis, como mordidas, latidos inadequados, brigas com outros cães, inquietude, ou mesmo a falta de interesse na interação.

Luciana conta que a terapia com animal se tornou ainda mais importante ao enfocar idosos com a doença de Alzheimer, os quais, devido não só as limitações da idade como também da doença, tendem a se sentir ainda mais desvalorizados e inúteis. É nesse momento, que essa atividade se torna muito estimuladora. “A terapia utiliza atividades que os estimulem à participação e faça-os exercitar funções cognitivas, de forma a tentar preservá-las por um tempo mais longo”, afirma Teixeira.

Três idosas com diagnóstico de Alzheimer em processo inicial, foram analisadas durante seus encontros com os respectivos animais. As idosas participantes do estudo, se mobilizaram afetivamente. “Percebemos que elas cuidaram mais de seus corpos, arrumaram-se, falaram mais, usaram recursos inclusive imaginativos e criativos nas entrevistas e respostas a questões, sobre os cães, que envolviam memorização”, afirma Teixeira.

Mesmo pessoas idosas que não tem Alzheimer, afirmam que seus cachorros trazem um enorme bem-estar não só emocional, mas também físico. A aposentada brasiliense, Lucimara Pereira, de 68 anos, acompanhada de Bela, sua Cocker Spaniel, de 9, conta um pouco de sua relação com o animal.

“Não tenho dúvidas de que um cachorrinho traz sempre alegria e motivação a família. E no meu caso digo mais, Bela se tornou minha grande companheira. Claro que com ela, passei muitas dificuldades, apertos e cansaço, pois Bela desde pequena sempre foi uma bagunceira de mão cheia, mas em troca ela me trouxe alegria, risos, força de vontade para me exercitar, já que tenho que descer com ela, três vezes ao dia e também ela sempre preenche muito do meu dia, pois meus filhos se casaram e trabalham demais o que é normal, mas muitas vezes me sinto só, e a presença dela me conforta e diminui minha solidão”, afirmou Pereira

No final da pesquisa, a psicóloga comprovou que o relacionamento afetivo com os cães permite realmente resgatar a capacidade de utilizar a arte da lembrança e o uso da imaginação. Houve aumento da espontaneidade verbal, inclusive do humor na comunicação das senhoras estudadas. Teixeira conta que na relação com o cachorro permeiam-se sensações, emoções, palavras, imagens e posturas. Assim o animal passa a ser um caminho pelo qual o idoso pode expressar de forma corporal e simbólica com suas lembranças, seus sentimentos, pensamentos e conceitos.

“Recordar vivências é o caminho da re-significação da história pessoal presente. Caso estas senhoras tivessem suas comunicações invalidadas, consideradas sem sentido, avaliadas em falsas memórias, a sua verbalização diminuiria, o que poderia acarretar no avanço da situação de Alzheimer”, finaliza Teixeira.

Alzheimer

Essa infermidade integra o grupo das doenças mais comuns na velhice. Ataca o sistema cognitivo do indivíduo e acarreta a perda gradual da autonomia decorrente de um declínio funcional progressivo. Esse processo, que deteriora sobretudo a memória, que se inicia por perdas em curto prazo e se agrava, comprometendo as atividades diárias. Perda de concentração, desatenção, perda de iniciativa, retraimento social, abandono de passatempos e mudanças de humor, são alguns sintomas que podem aparecer.

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