27 de jun. de 2010

Arte feita por quem já se aposentou

Idosos complementam a renda com suas habilidades na rua

Por Gabriella Bontempo

Quem passa pelo Setor Bancário Sul se impressiona com os traços firmes do seu Jayme, um senhor de 79 anos que reproduz com precisão fotografias em grandes formatos. “É tudo por amor à arte”, repete várias vezes ao longo da conversa. Além dos desenhos a lápis, ele pinta tela a óleo e faz esculturas com gesso colorido. Com tanto trabalho assim, optou por fazer parte da obra em área livre e justifica: “É maravilhoso poder pintar na rua e conhecer gente nova”.

Segundo Jayme Marques da Silva, a arte dele é “dom de Deus”, pois não teve professor para ensiná-lo, simplesmente aprendeu a técnica sozinho. Com ela, chega a tirar até R$ 100 por cada fotografia desenhada e quem quiser uma moldura para o quadro ele mesmo faz, com canudinhos de jornal enrolados e envernizados. Ele se gaba do pique e boa saúde. Não fuma, nem bebe tampouco toma remédios. Além de Jayme, outro senhor de 70 anos envolve com a música quem entra e sai pela estação Galeria, do Metrô, localizada no Setor Comercial Sul.

Com um banquinho e saxofone, Luís Fabrício Ferreira, adoça a correria de milhares de brasilienses. No repertório, músicas eruditas a canções inesquecíveis de Roberto Carlos. A estudante Virgínia Rozendo, 19 anos, diz se alegrar quando ela passa a catraca da estação e ao longe já escuta a música. “É muito bonita. Eu não teria o fôlego que ele tem”, completa.

Luís já fez de tudo um pouco para tentar sobreviver. Foi de catador de caroço de pequi a professor de português. Desde 2006, quando se divorciou, escolheu o Metrô como palco de suas apresentações.

Além de tocar, Luís Fabrício vende um CD com algumas de suas 300 músicas de trabalho gravadas e um DVD comemorativo dos 50 anos de Brasília. Quem quiser também pode chamá-lo para tocar em festas, shows, cerimônias religiosas. Algumas lojas e lanchonetes também o contratam para animar a clientela. Seus serviços estão bem apresentados na página do Luís Fabrício na internet, com vídeos e repertórios. O escritório? É bem ali, perto de alguma estação do metrô.

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